Essa semana
damos continuidade à seleção de traduções (iniciada
aqui) do primeiro número da revista de poesia argentina: Cecy y Fer (poeta
y revolucionaria), das Argentinas Cecilia Pavón e Fernanda Laguna.
O que arrebata
na revista de 2002, é a intensidade que os textos da assim chamada hotmail
poetry atingem com tons aparentemente banais. Não raro é passar por alguma
tradução de letra de música ou poema e pensar “mas que bobagem”, quando a
operação que se dá de fato, nada tem de boba. Pelo contrário, na revista o íntimo
e a máxima exposição (ou talvez mais acertado seja falar em performance) tomam
o lugar que, numa revista, estaria destinado ao literário. A literatura tem
pouco espaço nas páginas (imprimidas em papel A4 preto e branco e grampeadas)
de Cecy y Fer. Ou pelo menos uma literatura. Livros, textos e autores são mencionados,
referenciados. Mas quem preenche o espaço são os e-mails, as letras de música
da Shakira e os desenhos rabiscados num quase desleixo.
Foi sob essa
impressão que, ao apontar nesse trabalho influência direta da cultura brasileira, o
artigo da também argentina Cecilia Palmeiro fez com que percebêssemos o esforço de tratar de Ceci y Fer aqui no blog como parte de “um circuito de
traduções, roubos e contrabandos mais que frutíferos entre Argentina e Brasil”.
Ainda que parte pequena, é bonito.
Beleza e felicidade.
Segue aqui,
parte do artigo de Cecilia Palmeiro, junto a mais traduções do primeiro número da revista de
Cecilia Pavón e Fernanda Laguna (assinadas por Lucas Matos, Marcio Junqueira e Thiago
Gallego).
***
Belleza y Felicidad: Girls just wanna have
fun – por Cecilia Palmeiro, em tradução de Thiago Gallego
Em fins dos anos 90, inaugurou-se na cena portenha um novo modo de ser
da arte, um escândalo, um quilombo: a editora e galeria Belleza y Felicidad
[Beleza e Felicidade]. As amigas Cecilia Pavón, Fernanda Laguna e Gabriela
Bajerman, suas figuras mais relevantes, sinalaram quais eram as possibilidades
disruptivas da sua geração: o que podiam romper, quais bombas atirar, como
agitar?
Fernanda Laguna e Cecilia Pavón fundaram Belleza y Felicidad nos
finais de 1999, primeiro como selo editorial e depois como galeria de arte.
Cecilia se desvinculou do projeto por volta de 2002 (ainda que seguisse
colaborando) e Fernanda continou com a galeria até 2007. Gabriela é amiga
íntima, musa e companheira do projeto, e sua revista Nunca nunca quisiera irme a casa [Nunca nunca quis ir para casa],
de 1997, é um antecedente de Belleza.
Numa viagem a Salvador (Bahia) Fernanda, Cecilia e Gabriela descobriram
um modo de circulação literária que era completamente diferente do de Buenos
Aires: a literatura de cordel. Tratava-se de pequenos livrinhos folhetinescos
que se vendiam pendurados em uma corda (como a de secar roupa) em negócios que
mesclavam a literatura popular com outras bugigangas (objetos baratos
transformados mais tarde em kitsch). Essa ideia de mistura de materiais
heteróclitos se tornou central para Belleza. Porque tratava justamente de
dessacralizar a literatura, de expôr seu caráter de mercadoria ideologicamente
negado em um circuito cultural baseado no privilégio de classe, que remete a um
modo de produção literária sustentado, tanto nas grandes editoras como nas
universidades, pela exploração quase escravista disfarçada sob o manto do prestígio
- o prestígio de pertencer à cidade letrada. A partir da década de 60, essa
modalidade de circulação literária, como vimos, formou parte das técnicas
incorporadas pelos poetas marginais do Rio e de São Paulo. Essa reutilização da
literatura de cordel no contexto do desbunde
atravessa transversalmente a importação, a princípio incidental, ainda que
determinante, que em fins do século passado inspirou parte da dinâmica de
Belleza y Felicidad.
Com essa ideia de mistura de materiais heteróclitos recolhida no
Brasil, Cecilia e Fernanda criaram o primeiro selo editorial ByF, para o qual a
literatura não era apenas uma mercadoria senão uma coisa barata e logo uma
galeria de arte no bairro de Almagro, onde a questão não era reunir artistas em
um âmbito fechado, mas juntar pessoas que faziam coisas distintas e as
compartilhavam com os amigos (lógica que atravessou também a construção do
catálogo) pondo em dúvida o estatuto da arte e conceitos como qualidade
estética, especificidade e autonomia, e construindo projetos em rede, assim
como modos experimentais de comunidade. A renda mais constante vinha primeiro
da venda de insumos para artistas plásticos. Os objetos a venda e o público, composto
- segundo a hora do dia ou da noite - por vizinhos do bairro, estudantes de
belas artes, comerciantes, músicos, jovens artistas, amigos das donas e algum
jornalista cultural antenado, tendiam a dissolver os limites entre as mercadorias
destinadas às elites e os objetos destinados ao consumo de massas. Em Belleza
conviveram os textos dos autores contemporâneos mais experimentais com
quinquilharias compradas no mítico bairro de Once, bandas de punk rock, cúmbia
villera, objetos de artistas de rua, ou qualquer coisa que chamasse a atenção
das meninas.
A partir de então, Belleza e Felicidad se converteu num espaço
estranho, porém extremamente hospitaleiro e heterogêneo, único em Buenos Aires.
A antítese do modelo cultural argentino: em vez de importar os formados da alta
cultura europeia na trajetória típica do centro à periferia, Cecilia e Fernanda
tomaram um modelo menor de um país periférico com uma vastíssima tradição
popular oral, um passado cultural muito próximo e um cânone literário que havia
sido praticamente ignorado na Argentina. Belleza, sem querer, abriu a porta
para um circuito de traduções, roubos e contrabandos mais que frutíferos entre
Argentina e Brasil. Essa série de curtocircuitos e afetividades gerou as
condições de possibilidade para retomar uma antiestética do trash que já havia
começado a ser relida e posta em prática em escritas poéticas como as de
Santiago Vega/Wáshington Cucurto, Gabriela Bejerman e Daniel Durand, entre
outros.
(...)
[O texto
continua em: http://cl.enovum.net/?p=502]
***
Oioi, Marcin
Não sei se consigo por esses dias
fazer qualquer outra coisa que ficar pensando na
ruiva maldita
No mais
“busco meu amor”
desculpe se
te decepciono Fer, eu que pareço tão feminista... mas meu sonho é ser dona de
casa... no mais eu gosto de pendurar
a roupa no varal com um namorado
te mando
esse poema que escrevi tem um tempo e que explica tudo melhor....
Berlim
Conhecer você
era só o que faltava para completar minha educação. Quero mais da vida hardcore
do teu lado, com boates e bares, me arrastar pelo chão para que num momento de
iluminação me diga. “sim estou disposto a te violar no banheiro”. “Mas só por
um breve lapso”.
Quero mais
da vida hardcore de Berlim. Gente apertada feito ratos em uma leitura de poesia
que rola num salão. Os poemas são bons, estou entusiasmada. Agora vamos por uma
Avenida, são três da manhã. O clima é cruel. Aparentemente essa é uma região de
ventos. Quero mais das suas mãos duras, quero mais álcool e mais drogas
*
Tua casa
Tua casa
estava gelada
essa noite
Nunca dormi
num lugar pior
Eu não sabia
que o interior das casas
conserva o
inverno
muito
muito mais
tempo
que o ar
aberto das ruas.
Então,
essa tarde
quando caminhei pelo teu
bairro
infernal
e te busquei
para uma festa
a primavera
podia sentir-se
finalmente
na cidade.
E quando deu
a hora em que os
trens deixam
de passar
não exitei
em te pedir abrigo
Agora me
arrependo
Nunca dormi
num lugar pior
Essa foi a
pior noite da minha vida.
As cobertas
eram ásperas e não
aqueciam
tinham buracos
não me deu
almofada
e me pôs no corredor
estreito
Ali as
paredes rugosas
me faziam
pensar todo o tempo em
uma cova
E esse ar
gelado antigo
do Espaço
sem calefação
Não, acho
que nunca dormi num
lugar pior
De manhã
acordei doente
Vomitei
quatro vezes até chegar na
minha casa.
Três na tua
a última num
canto do Metro
como me
desfazendo de um espírito
malígno que
se houvesse
apoderado de mim
nunca dormi
num lugar pior
essa casa é
prisioneira de um fantasma
Que distinta
quando estava vazia
e te
acompanhei pra buscar a chave
Nesse dia a
casa se via realmente bem
o sol
entrava pela janela
das paredes
não pendia nada
e no chão
não tinha um carpete
marrom.
*
Meu namorado
(Antes de
prosseguir, quero dizer a todas as garotas que sou bissexual
E não
acredito na monogamia).
O namorado
que me amava
O namorado
que tinha cachos e foi
meu último
namorado.
Depois dele,
não teve mais.
Desapareceram.
Os homens
lindos eram gays
ou muito
novos para mim.
E os mais
velhos se foram,
como todos
de idade mediana.
Ele foi o
último.
Com quem
melhor fodi.
porque era
um cara sensível e esses são os que fodem melhor.
Comum e
sensível com a sofisticação de um herói
Tocava em
mim piano,
guitarra,
baixo.
Pandeirola e
palmas tri boas em todas as canções.
Um músico
muito melhor que os eletrônicos de quem gostava antes
Penteava os
cabelos na água,
Jamais
lavava o banheiro porque as mãos podiam se estropiar.
Isso era eu
que fazia e hoje,
as tenho
envelhecidas.
Às vezes
comia uns sanduíches do tamanho do prato
e os cortava
em triângulos
e me servia
e eu dizia:
“Mas... são
corações!
Meu amor!
Nossos
corações de carne de vaca!”
E que
felizes éramos,
quando não
nos olhávamos como dois estranhos,
quando à
noite
no escuro
não nos transformávamos em tios entediados
que não se
dão um beijo.
Os dois
duros
fitando o
teto
com muitas
coisas por dizer e em silêncio.
O namorado
que tinha perdi
num dia que
não o amei.
Um dia não
faz muito
porque não
posso amar, cada vez que amo, choro
e não posso
amar.
Odeio, o
odiei porque ele era feliz comigo
e eu não
podia ser feliz com nada.
Quero ser de
gelo
e ter a
forma de um peixe fisgado.
*
já quase não
me interessa sair
quando vou
às festas buscar inspiração
não paro de
pensar em ser
poeta,
poeta...
e estou
arruinando meu método
que era tão
natural
como a
respiração
Cada vez
menos coisas me interessam mais
que
estar em
casa escrevendo
mas ao mesmo
tempo se não faço
nada
não vou ter
nada pra contar
tenho medo
é culpa
dessa revista.
essa revista
é demasiado descarnada,
demasiado
intensa
está me
fazendo mal!
*
Vou
falar e peço perdão a todos os meus amigos que possam se sentir ofendidos, a
você Fernanda que, bem, acredita na luta pelos direitos das minoroas (e a Guacira
Lopes Lobo naturalmente)... mas estou farta dos homossexuais! acho que é uma
moda em B.A., por que há tantos guris de vinte que pensam que virar gay é fascinante?
Me arrependo de toda a política editorial de belleza y felicidad até agora,
essa que nos fez famosas como a única editora de literatura gay. Não vou
colaborar mais com essa propaganda.
Meninos da
nova geração: não tenham medo das mulheres, mudamos, assustamos um pouco, mas
temos muito para dar, o futuro é mulher
A você
Fernanda, paremos com isso de publicar poesia gay porque vamos terminar sem
amantes e a mim interessam os homens
(Gostaria
que essa revista não terminasse nunca, por sua vez gostaria que vendesse
milhares de exemplares pra não ter que fazer outra coisa mais que escrever
poesia de hotmail na frente do meu computador... já não leria livros, só
e-mails)
*
Reflexões
automáticas (parte 3)
Vou escrever
um romance realista. Já!
Sim, vou
fazer! Custe o que custar.
porque o meu
estilo corre o risco de se repetir
e se repetir
e chatear e ficar preso no mundo da fantasia
que é algo
que não chego a compreender.
Creio nela
através da fé que é não se fazer perguntas demais.
Tentarei
transformar isso já! Agora.
Neste
momento preciso, mudo.
Devo
escrever um romance agora!
realista,
heterossexual e com princípio, meio e fim.
desligo a
música para que não me faça decolar na emoção.
Isso é o que
devo fazer e o que estou fazendo.
Este é o meu
próximo passo
escrever
tudo na terceira pessoa
que é mais
complexa que a primeira...
porque a
primeira
sinto que é
mais fácil,
é como
escrever um diário.
É escrever o
que sinto
uma fantasia
porque meus
sentimentos são bem pouco precisos.
Na terceira
pessoa
mas também
posso colocar coisas,
na história,
que eu vivi.
Coisas de
minha realidade
que
transporto a uma ficção
que se
parece muito com a realidade.
As histórias
são ficção
por causa de
muitas coisas
mas uma
delas é que
não são a
realidade.
Quero criar
uma história realista.
Oh te
invoco, história realista...
E começo já!
Ela escreverá
uma história realista,
tomará
exemplos do real
que sejam o
mais “isto”, a coisa mais coisa possível.
Uma história
em que não haja nenhum elemento ambíguo.
Coisas,
imagens, ações
Que tenham
qualquer traço de “pouco comum” e de “algo raro”.
Ela já está
fazendo!
Por exemplo,
palavras que
não usará (ela me disse):
fantasma,
sombra misteriosa, estranho, oculto,
fada,
brilhante e fantástico.
Tampouco
coisas de Virgens.
Escutemos...
Ela disse:
“As coisas
serão de madeira, de vidro, de metal, de plástico
e, porta
adentro, não terá nada.
Se na casa
tem um cachorro só,
ele estará
só.
Não falará
consigo mesmo,
não pensará,
não fará
nada que não faça um cachorro comum”.
Para criar
esta história a autora está se esforçando muito.
Escutemos
novamente...
Ela disse:
“Às vezes me
acontecia de me pôr a analisar o real
do grande ao
pequeno ou do pequeno ao grande
e sentir que
o irreal é meu pensamento.
Ele viaja
até as coisas
e volta
destroçado.
Os
pensamentos são como barcos na bruma tingidos de céu.
Barcos que
não se podem tocar mas em que
se está
destinado a ter de acreditar neles”.
A autora
está vendo navios na câmara escura da mente
e não sabe
se a mente é algo que deve pôr na sua história
Escutemos...
Ela disse:
“Contudo,
não,
isso é para
outra história,
e não devia
ter comentado.
Se não
conheço algo com clareza,
não falo.
Não, não
falo,
insinuo como
num jogo.
A mente vem
de... não, não falo.
Não, não.
Não vou falar”.
Bem.
antes de
começar o conto, ela volta a falar.
Escutemos
uma última vez...
“A última coisa
que digo
Não sei se
uma história é uma ficção ou algo que é real.
Não digo
mais nada”.
A história
gira em torno de um personagem principal
que vive só
num apartamento da tijuca num andar alto
Sãens Peña
190
Solteiro, 29
anos, mulato, etc.
Trabalha na
loja do pai,
A maior loja
de ferragens da quadra.
Trabalha de
macacão azul,
Neste
momento usa sapatos de couro Grimaldi tamanho 40 e,
como o
interior é apertado,
Se veem as
meias da cor bordô.
Não precisa
pegar ônibus,
Porque seu
trabalho fica na esquina.
Agora está
andando a pé sobre os Grimaldi 40.
Atravessa a
rua,
O sinal está
em bonequinho verde,
Ele olha
para uma bosta de cachorro e decide não pisar.
Dá um passo
largo que deixa desconjuntado o passo seguinte
então dá um
passo menor
e retoma o equilíbrio.
Caminha e
chega à loja de ferragens.
Saúda com a
mão esquerda o pai, que está lá dentro.
O pai
responde com a direita.
Abre a porta
e diz ao mesmo tempo:
“Oi, pai”.
Fecha a
porta num golpe.
Se beijam na
bochecha e se falam.
A autora não
chega a escutar o que dizem, então
utiliza a
técnica da leitura labial
mas como
eles estão de costas não logra se inteirar de nada.
O pai dá um
papel
que ela
supõe que é uma lista.
O filho,
saindo do local, pisa a rua
e pode
senti-la
já que faz
uma cara de dor ao enfiar o pé num buraco.
*
A um escritor
você diz que
vivemos com uma overdose de poesia
diz com um
tom depreciativo muito seu,
o mesmo tom
que usa, por exemplo, para falar
dos “poetas
provincianos”,
nossos
amigos
ou de Chacal
nosso ídolo,
de quem diz
“é um gênio,
mas improvisa demais”
Vamos usar
uma página da nossa revista
super foda
pra te contestar
e não porque
seja importante senão
porque nesta
cidade há milhares como você:
sim vivemos
com uma overdose de poesia
fazemos isso
todos os dias, 24 horas por dia
lançamos um
ou dois plaquetes por semana
e aí?
me parece
que ao nos tirar essa onda
tem algo de
que não se deu conta:
se escrevêssemos
mal
quem sabe
poderíamos pedir às nossas mães
que nos
mandem a um grupo de autoajuda
para poetas
anônimas
mas escrevemos
tão bem
que cada uma
de nossas frases
é um
presente que damos
a você
bobinho
para que
possa seguir fazendo
seus
livrinhos com tomos
que ninguém
lê.
E garanto que
no seu próximo livro
vai haver
algo como isso
*
“O fim das ironias”
(Le Tigre)
*
TENHO UMA
AMIGA RICA
tenho um
terno da “gucci”
dois casacos
“prada”
uma capa “louis
vitton”
um sobretudo ”cacharel”
tudo, presente
dela, minha
amiga mais rica, casada com um dos homens mais ricos do
planeta.
tem avião
privado
e duas vezes
viajei nele, por todo o brasil
e de
bruxelas à budapeste.
foi como
pegar um taxi
Em Londres
tem um pent house que nos 70’s
era o
boliche... me esqueci o nome, mas era muito famoso
lá tocavam
os rolling stones quando não eram ninguém e david bowie
no bairro do
soho agora renovado
Nos
conhecemos em 1990, com 17 anos
as duas eram
pobres
voltamos a
nos encontrar em agosto de 2000
ela era
multimilionária
e me
convidou a viver na Europa
numa conversa que sempre ia pra
europa
Sua casa em
Bruxelas fica numa rua
que na real
é uma é uma passagem fechada
“bois de
cambre”
no final da
Avenue Louise, e onde começa um parque
um dos
bairros mais aristocráticos da Europa
Essa foi a
fase mais glamurosa da minha vida
Em Londres
fomos jantar no mesmo clube que Madonna
um clube
privado chamado “Home house”
ela é sócia.
Ela lê todas
as novidades da literatura francesa
e vai no
cinema quase todos os dias.
não é uma
milionária cuzona
Mas seu
brilho e seu esplendor foram demais pra mim
e brigamos
talvez algum
dia
voltemos a
nos encontrar.
*
já leu
Adorno?
(guadalupe e
ilana te explicam:
2374 0247 /
2306 0825)
*
a poesia de
hotmail ou hotmail poetry é um novo gênero inventado por fernanda laguna e
cecilia pavón em buenos aires em um lugar incerto entre almagro e congreso.
Às nossas
leitoras:
hoje é
sábado, onze da noite, estamos comendo, mas não vamos dormir depois.
vamos sair,
vamos buscar algo na noite, para contar na revista.
Aos nossos
críticos:
Talvez digam
que esta revista é autorreferencial demais
talvez tenham
razão
certamente,
esta é uma
revista autorreferencial
mas...
talvez se
equivoquem
e nós também
e isso seja
algo ainda não inventado
quem sabe?
queremos
novas gerações de críticos para falar de nós
“aceitamos o
desafio da crítica dura”
Cecilia este
é o final
estou
esgotada. Escuto música e me anima.
Agora, vou a
uma inauguração e todos estarão resplandecentes,
E eu,
cansada,
sem rouge,
sem rímel,
com sapatos
de salto vermelhos que me machucam.
Tenho um
vestido novo de $4 que parece de $30
Fica ótimo.
Me deixa
gorda.
Eu tenho 210
mensagens e 0 não lidas
0 NÃO LIDAS!
ah... este é
o final para mim
this is hotmail poetry: “send me an
email that says I love you”: Pet shop boys.
[textos de “Ceci y Fer (poeta y revolucionaria)”. Año I. N I – 2002, Buenos Aires,
Argentina – Revista feita por Cecília Pavón e Fernanda Laguna. Em traduções
de Lucas Matos, Marcio Junqueira e Thiago Gallego]
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