Os poemas de Aníbal Cristobo talvez lembrem
pequenas manchas de luz projetadas a partir de um ponto em nosso corpo inalcançável
pela vista: quando o resto do corpo tenta alcançá-las, elas se moveram um pouco
mais adiante. No espaço entre o que diz o poema, ou em como ele age sobre o
pensamento, sobre a composição de frases no pensamento, e a percepção dos
deslocamentos que promove na linguagem, o leitor faz(-se) e desfaz(-se) na
poesia, numa espécie de movimento contínuo. Aqui, talvez não interesse tanto alcançar
uma forma projetada, mas como se desfazem formas estabilizadas do poético, e o
movimento de se pôr na direção de outra, ou melhor, na direção de um outro. Não
é à-toa que as palavras que Manoel Ricardo de Lima escolhe para abordar a
prática poética de Aníbal sejam viagem
e encontro.
Nesta semana, nós, da Bliss Não Tem Bis, estamos promovendo, em parceria com a EdUERJ que
comemora 20 anos de existência agora em maio de 2014, e a Casa de Leitura Dirce
Côrtes Riedel, uma rodada de (re)encontros entre Aníbal Cristobo e o Rio de
Janeiro – que se iniciou com a mesa Edição
de poesia: modos de fazer e de desafazer, que contou com Marília Garcia (que
falou sobre seus anos de experiência como parte da equipe da 7letras e sobre a
revista de poesia Modo de Usar & Co.)
e com Ítalo Moriconi (que falou sobre a coleção de crítica e antologia Ciranda da poesia e sua atuação frente à
EdUERJ).
Nossa compreensão é a de que o conjunto de
uma produção poética se faz singularmente através de encontros, contatos entre
poéticas em ação em línguas diversas. Tal compreensão permite vislumbrar a
importância da figura de Aníbal Cristobo para os desdobramentos recentes na
poesia contemporânea em português brasileiro e em castelhano.
O poeta e editor, nascido em Buenos Aires,
Argentina, veio a morar durante 5 anos no Rio de Janeiro no final da década de
90 do século passado, e acabou se envolvendo intensamente no debate cultural
acerca da poesia e publicando aqui seus primeiros livros. Desde que se mudou
para Barcelona e fundou uma editora voltada para a poesia contemporânea, tem
sido um dos pioneiros a publicar em castelhano a produção brasileira da década
de 70 para os dias de hoje (apresentando as primeiras traduções de jovens
poetas em atividade, como Ricardo Domeneck, por exemplo). Também devemos
lembrar o destaque conferido à movimentação da cena poética e do pensamento
crítico sobre poesia brasileira a partir do blog Escolhas Afectivas, capitaneado pelo argentino a partir de 2006.
Nesse sentido, que nos interessou tanto a
ideia de um reencontro com fontes importantes para a discussão poética no
contexto da cidade do Rio de Janeiro, quanto a de ver as diferenças (tanto do
contexto e da cidade quanto de Aníbal e sua percepção) em ação num diálogo vivo
entre esses elementos.
Amanhã, 15/05/2014, acontece um segundo
encontro na Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel, com leituras de poesia e performances
poétcas de Aníbal, Marília Garcia e dos editores deste blog. Também será a
noite do lançamento do livro novo de Aníbal Cristobo, Minha vida como bactéria, edição bilíngue da 7letras com texto
traduzido para o português por Marília Garcia e Luciana di Leone.
Por enquanto, apresentamos um pequeno
mosaico de falas de Aníbal retiradas de entrevistas feitas em momentos
diferentes de sua carreira, trecho de crítica sobre sua obra nas palavras de
Manoel Ricardo de Lima, e uma seleção de seus poemas, a partir de Miniaturas Kinéticas (Cosac
Naify/7letras, 2005) e Aníbal Cristobo
por Manoel Ricardo de Lima (Ciranda da poesia, EdUERJ, 2013). As traduções para
o português dos poemas são de Carlito Azevedo, à exceção do último, Minha vida como bactéria, traduzido pelo
Manoel Ricardo de Lima.
***
Trecho
da Entrevista Nem touros, nem
guarda-chuvas, por Hasier Larretxea, tradução de Luca Argel (publicada
originalmente em Chão da Feira). [Você ler a entrevista na íntegra aqui]
[Aníbal Cristobo]: Penso que se vemos isso
[idealizar uma editora de poesia] como uma aposta, corremos o risco de
acreditar que haverá um único número ganhador, ou de algum modo ficaríamos
presos à ideia de um resultado que comprovaria se temos ou não razão em fazer o
que fazemos. Vamos perder tudo, e como queria Beuys, nos alimentaremos dos
desperdícios das nossas próprias energias. Talvez seja bom que deixemos de
pensar na poesia em termos de marketing empresarial e passemos a entendê-la
como um ecossistema: o que queremos desenvolver em Kriller71 é isso, esse sentido
de oferenda que propicia que um circuito seja sustentável, ao menos por um
instante. Que alguém que deve quase tudo à poesia, como é o meu caso, possa
tentar fazer uso de suas forças para devolver algo do que recebeu. Nesse
sentido é quase anedótico que o projeto seja economicamente inviável, porque
pela mesma regra de três podemos chegar à conclusão que o mais correto para um
elefante seria a imobilidade, ou que ter amigos não é uma atividade rentável, e
evidentemente não se trata disso. Com isso, invertendo os termos eu te diria
que não, que oferecer algo que se faz com paixão, buscando entregar o melhor de
si, nunca é arriscado. Arriscado é acreditar que podemos viver sem poesia.
*
Poemas
Cielo del Allatolah
La voz del Allatolah – UNKNOWN
PERSISTING SUBSTANCE – es también
una cinta de luz
repetida en el aire como flujo magnético
y descompuesta en cálculos y ritmos, en
calor,
en impulsos binarios
y es el monte
con su kit de fragancias y de vientos
y arenga,
domadora de piedras y de imágenes.
El must del Allatolah no es uma distorsión:
es fulgor
que rige en el desierto y en las flores
– em las lajas simétricas
como en la enramada estroboscópica
del árbol y la luna: – Allatolah’s sky
en lo alto de la torre.–
---
Céu do Aiatolá
A voz do Aiatolá – UNKNOWN
PERSISTING SUBSTANCE – é também
uma fita de luz
repetida no ar como fluxo magnético
e decomposta em cálculos e ritmos, em
calor,
em impulsos binários
e é o monte
com seu kit de fragrâncias e de ventos
e arenga,
domadora de pedras e de imagens.
O must do Aiatolá não é uma distorção: é
fulgor
que rege no deserto e nas flores
– nas lajes simétricas
como na ramagem estroboscópica
da árvore e da lua: – Aiatolá’s Sky
no alto da torre.–
*
Test de la iguana
Animal: figura de la velocidad
y de la forma – mancha
de
luz
– que ha cruzado el camino:
el paso de la iguana y su
sello en la arena: reposo,
repetición del cuerpo
y lo impregnado: la
huella
como libro de pasiones
y de asombro; y espejo: desdoblando
tu voz, igualándola
con tu propio deseo
como en algo
como en un ejercício metonímico:
“el paso de la iguana
y su sistema de indeterminación: forma
o velocidad?”
Iguana:
tus ojos fríos em la piedra naranja,
rapidísimos,
como final de toon.–
---
Teste da iguana
Animal: figura da velocidade
e da forma – mancha
de
luz
– que cruzou o caminho:
o passo da iguana e seu
selo na areia: repouso,
repetição do corpo
e o impregnado: a
pegada
como livro de paixões
e de assombro; e espelho: desdobrando
tua voz, igualando-a
com teu próprio desejo
como em algo
como num exercício metonímico:
“o passo da iguana
e seu sistema de indeterminação: forma
ou velocidade?”
Iguana:
teus olhos frios na pedra laranja,
rapidíssimos,
como final de toon.–
*
Guajiro Killer
La pasta del guajiro está cebada
cuando cambia de manos. Venenosa
entre los matorrales sin sombra
de Cabo de la Vela. Guajiro Killer
por la calle de tierra:
“amanecí
entre aquellas cervezas, mirando
el contrabando y la pesca del viejo,
las cabras amarradas al salitre,
el espejismo del camión cisterna
en fin,
todo sudado”. Guajiro Killer
vuelve a cobrar su tédio; un delicado
sistema de
venganzas
jalándolo del hombro.
Un día el guajiro se se acaba: cristalizado
en sal
estalla su bromuto de plata; lanza
el flash de su record
contra tus ojos blandos de conejo asustado
contra tu corazón,
infinito reporter,
con su pequeña islã
de pudor y de miedo.–
---
Guajiro Killer
A erva do guajiro está cevada
quando muda de mãos. Venenosa
entre os matagais sem sombra
de Cabo de la Vela. Guajiro Killer
pela rua de terra:
“amanheci
entre aquelas cervejas, olhando
o contrabando e a pesca do velho,
as cabras amarradas ao salitre,
a miragem do caminhão cisterna
enfim,
todo suado”. Guajiro Killer
volta a cobrar seu tédio; um delicado
sistema de
vinganças
puxando-o pelo ombro.
Um dia o guajiro se acaba: cristalizado em
sal
estoura seu brometo de prata; lança
o flash de seu record
contra teus olhos brandos de coelho
assustado
contra teu coração,
infinito repórter
com sua pequena ilha
de pudor e de medo.–
*
Bloody Mary
En la cama, con cuidados
mayores que el amor, con
temor
los niños
han dibujado en lo desconocido.
Han tocado las luces en el suelo.
Han contado sus fotos.
Allí: el cine de los niños, instalado
en la infinita blancura de
sus cuerpos: y el pudor
con su imaginación reveladora;
su guión del vacío.
Su esplendor.–
---
Bloody Mary
Na cama, com cuidados
maiores que o amor, com
temor
os meninos
têm desenhado no desconhecido.
Têm tocado as luzes no chão.
Têm contado suas fotos.
Ali: o cinema dos meninos, instalado
na infinita brancura dos
seus corpos: e o pudor
com sua imaginação reveladora;
seu roteiro do vazio.
Seu esplendor.–
*
Una ballena blanca (check-in)
Con eses objetos conocidos y con
esa ballena blanca
hablás: cuando estás solo
y esas canciones son la música
de los momentos felices
ves en una curvatura
cola de ballena en el mar, en esos
reflejos
manchas de luz y musgo
en las manos
sentado entre las rocas
por primera vez
respiras – contemplas
a tu ballena blanca: una
iluminación, un niño en el oceano.–
---
Uma baleia branca (check-in)
Com esses objetos conhecidos e com
essa baleia branca você
fala: quando está só
você e essas canções são a trilha
dos momentos felizes
vê numa curvatura
cauda de baleia no mar, nesses
reflexos
manchas de luz e musgo
nas mãos
sentado entre as rochas
pela primeira vez
você respira – olha
a sua baleia branca: uma
iluminação, criança no oceano.–
*
Jet-lag (Lisboa)
No sos
un pasajero com movilidad
reducida, o no
caminarías en las calles de
Lisboa, en la calle Escondrijo tu perro
de la suerte es un gato; y vos
va a ver delfines prisioneros
en las ramas de un árbol – nadie más
sabe
cómo volver a casa. Cuarto
de hotel: solo te quedás
si hay Adília em la tele, si ella
usa esos guantes rosa, de
lana, y si habla
de San Francisco y los líquenes, de los
rayos equis. Sólo te quedás
si ella entonces pregunta: “¿quién no juega
con los sentimientos de las otras
personas?”
---
Jet-lag (Lisboa)
Não é você
um passageiro com mobilidade
reduzida, ou não
caminharia nas ruas de
Lisboa, na rua Esconderijo seu cachorro
da sorte é um gato; e você
vai ver golfinhos presos
entre os galhos das árvores – ninguém mais
sabe
como voltar pra casa. Quarto
de hotel: você só fica
se tiver Adilia na televisão, se ela
estiver de luvas cor-de-rosa de
lã, e se ela
falar de São Francisco e dos liquens, dos
raios xis. Só fica
se ela então perguntar: “quem não brinca
com os sentimentos das outras pessoas?”
*
Ñandú
Llega el ñandú – cansado
de transmitir su acorde – y susurra
en tu oído:
- basta de peso físico, dice
- a pastar, dice
Pero el ñandú es la bomba
de tiempo! Es el ladrón! Te descubre
sentado entre las rocas:
- vamos hacia lo abierto, dice
- la curva del espacio, dice
Si hay un diamante, es
el de la persuasión y distracción – como un
ilusionista: “el secreto es el viaje”,
sueña
que te hipnotiza; pero también:
- “Yo no soy el ñandú! El ñandú
es invisible, y no es cierto
que mire al cielo, esperando
instruciones”.–
---
Ema
Chega a ema – cansada
de transmitir seu acorde – e sussurra
em teu ouvido:
- basta de peso físico, diz
- pastar, diz
Mas a ema é a bomba
de tempo! É o ladrão! Te descobre
sentado entre as rochas:
- vamos para o aberto, diz
- a curva do espaço, diz
Se há um diamante, é
o da persuasão e distração – como um
ilusionista: “o segredo é a viagem”; sonha
que te hipnotiza; mas também:
- “Eu não sou a ema! A ema
é invisível; e não é verdade
que olhe o céu, aguardando instruções”.–
*
Ghost writer
El poeta, y
sus procedimientos: (aquí) círculo
al que regresan las pasiones – casi
sin voz –
ensombrecidas por la imaginación.
Ángulo del poema: “que al hablarte
exista intimidad, y que todo
pueda ser perdido
y reencontrado así: en otros
escenarios”.
Las pausas del poeta, y
su mímesis
como efecto poema, calco, miniserie
de gestos
disparando el sentido, el
sonido, del
otro lado – así, en
un final continuo: Aníbal
no está! Aníbal
se durmió!–
---
Ghost writer
O poeta, e
seus procedimentos: (aqui) círculo
a que regressam as paixões, – quase
sem voz – ensombrecidas
pela imaginação.
Ângulo do poema: “que ao falar com você
exista intimidade, e que tudo
possa ser perdido
e reencontrado assim: em outros
cenários”.
As pausas do poeta, e
sua mímesis
como efeito poema, decalque, mini-série
de gestos
disparando o sentido, o
som, do
outro lado – assim, em
um final contínuo: Aníbal
sumiu! Aníbal
está dormindo!–
*
Los animales viejos
Inmóviles, como ramas secas
al sol, los animales viejos.
Los veo caer, iluminarse
con un rayo antes de la tormenta. Caer
vaciando sus pulmones con
un soplo: lanzan
un aire negro que los quema por dentro.
Cuero mal preparado, ese cuerpo
no ha llevarlos más: al
arroyo. A las estaciones
buenas.
No quieren, ni
saben pensar en redención. La muerte
no los hace diferentes, apenas
indefensos frente a las moscas y el
polvo. Miran
sin pestañear, pero nadie
los llama, ni elogia sus virtudes. Pasan
los días: por qué
la tierra habria de curarlos? Sería mejor
así? Si en el fuego
las patas se retuercen y
quiebran; cómo saber
que se encuentran a salvo?–
---
Os animais velhos
Imóveis, como galhos secos
ao sol, os animais velhos.
Vejo-os cair, iluminar-se
com um raio antes do temporal. Cair
esvaziando seus pulmões com
um sopro: lançam
um ar negro que os queima por dentro.
Couro mal preparado, esse corpo
nunca mais há de levá-los: ao
riacho. Às boas
estações.
Não querem, nem
sabem pensar na redenção. A morte
não os torna diferentes, apenas
indefesos frente às moscas e ao
pó. Olham
sem piscar, mas ninguém
os chama, nem elogia suas virtudes. Passam
os dias: por que
a terra teria de curá-los?
Seria melhor assim? Se no fogo
as patas se retorcem e
se quebram; como saber
que estão a salvo?–
*
Mi vida como bacteria
Cuando empece a escasear, la orden
fue que actuara con naturalidad, que
partiera
de escenarios mutuamente excluyentes –
que marcase algún cero absoluto, por
telefono
– o que me desprendiera de todo lo
anterior, y me quemase
una vez leído: me vindo a la memoria el
chiste
de la conversación entre dos asesinos
que fingen reconstruir el acento, los hábitos
lingüísticos
de la víctima
usando las propiedades de sus gritos, pero
cada vez
una pausa en la programación los distrae,
haciendo que la broma
nunca acabe, y la risa
se sume al resto de tareas pendientes.
Ahora se abrirán los turnos de debate
al respecto, y si com eso
se pudiera restablecer el flujo, se sabría
que hemos sido disueltos por opiniones
públicas, formateados
por la corrosión – como una muestra de
laboratorio.
---
Minha vida como bactéria
Quando comecei a diminuir, a ordem
foi que agisse com naturalidade, que
partisse
de cenários mutuamente excludentes –
que marcasse algum zero absoluto, por
telefone
– ou que me desprendesse de tudo, antes, e
me queimasse
logo depois de lido: me lembrei da piada
da conversa entre dois assassinos
que fingem reconstruir o sotaque, os
hábitos linguísticos
da vítima
usando as propriedades de seus gritos, mas
cada vez
uma pausa na programação os distrai,
fazendo com que a piada
nunca acabe, e a risada
se junte ao resto das tarefas pendentes.
Agora se abrirão os turnos de debate
sobre isso, e se com isso
se pudesse restabelecer o fluxo, se saberia
que temos sido dissolvidos pela opinião
pública, formatados
pela corrosão – como uma mostra de
laboratório.
*
Trecho
da Entrevista Aníbal por Memorial [Você pode ler a entrevista na íntegra aqui]
[Aníbal Cristobo]: O que você quer obter?
Quer uma forma? Então é preciso congelar tudo. É preciso que nada mais
aconteça. Que possamos estudar os fenômenos (os fenômenos da poesia, neste
caso) num estado de paralisia absoluta. Essa forma é sempre hipotética. Nunca
há condições para fazer esse experimento. Nunca há imobilidade. Nem dos
fenômenos, nem do observador. Acho que isso é uma ilusão antiga. Uma “ciência
da poesia” fadada ao fracasso.
Porém, se você prefere obter velocidade,
você nunca terá um dado certo. Mas é uma experiência que pode ser feita.
Digamos que há dois corpos. Ambos se acham lançados a velocidades diferentes, a
estilos diferentes. O que se pode dizer disso? Apenas o ponto de interseção
entre eles. O breve momento da leitura. Eles passam, eles se ultrapassam: o que
fica é o ar, inquieto por um instante. Esse ar. E um barulho que já não soa
mais. Melhor ainda: a lembrança desse barulho. Não é muito o que se possa
dizer, porém alguma coisa aconteceu ali.
Há alguma conclusão possível disso? Esse
tipo de fenômenos não tolera um juízo. Eles não são compatíveis com isso. É um
limite experiencial, mas seus resultados não têm uma medida: eles afetam apenas
um ponto que só está disponível para essa operação.
*
Trecho
de Aníbal Cristobo, por Manuel
Ricardo de Lima. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013. (Ciranda da Poesia).
A poesia de Aníbal Cristobo, de alguma
maneira, empresta-nos uma possibilidade de mudar o olhar, o ponto de
observação, assim como nos imprime a figuração da paralaxe, porque é uma poesia do
encontro e para o encontro e, ao
mesmo tempo, uma poesia de viagem e em viagem. Isso nos possibilita, portanto,
montar uma questão muito interessante, porque estamos diante de uma poesia que
é também, (...), quase toda forçadamente bilíngue a partir do alumbramento de um outro, ou anfíbia. E anfíbia como a
qualidade que se diz daquele que pode viver e andar tanto sobre a terra quanto
sobre a água, daquele que tem dois temperamentos distintos, opiniões sempre
opostas (e oposto não como o que está em sentido inverso, apenas, mas também
como o que está posto à frente de),
uma vida dupla, (eis o duo, ou o amigo), uma prática itinerante, alguns
deslocamentos e a aventura etc. – ao se justapor, por exemplo, quando impressa,
entre o espanhol falado e escrito que vem de Buenos Aires, contaminado por uma
vivência agora em Barcelona, e o português falado e escrito que vem do Rio de
Janeiro. Uma bipolaridade sugerida na figuração de um poeta que se apresenta
também como complementador.
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