Italo Moriconi é crítico, professor
universitário, poeta e organizador de antologias literárias (como os best-sellers Os cem melhores contos brasileiros do século e Os cem melhores poemas brasileiros do século, ambos pela editora
Record, 2001). É autor de três livros de poesia (Léu (saiu pela Tarus Timbre em 1988), Quase Sertão (Diadorim, 1996) e A
História do Peixe (o mais recente, pela 7letras em 2001)), além de ter poemas
incluídos em revistas e livros diversos. Atualmente, como editor-executivo da EdUERJ,
tem como um dos destaques da sua atuação no cargo a coleção Ciranda de Poesia, que reúne critica e
antologias da poesia contemporânea brasileira e internacional, e que já possui
quase vinte títulos publicados.
Nos diversos campos
de atuação em que tomou parte, uma das marcas de seu pensamento se destaca: a
alegria. Ela parece ser o resultado geral da forma como ele passa de uma ideia
a outra, como combina dramaticamente questões sérias em um modo de apresentação
ligeiro, ou o oposto. Não é à-toa que, no texto dessa entrevista, fomos
obrigados a inúmeras vezes pontuar o seu discurso com as tradicionais rubricas
que indicam que a palavra foi interrompida para dar lugar ao riso. A sua fala –
algo encantatória, com gestual expansivo – está pontuada aqui e ali com o riso,
ou com a sua intenção.
Publicamos uma
versão da entrevista na edição impressa da Bliss,
em 2009. O retorno a esse material parece evidenciar a sua pertinência.
Recuperamos trechos que tinham sido cortados e optamos por, ao invés de
publicar tudo de uma vez só, dividirmos o material tematicamente em três
partes.
Na primeira, Ítalo
fala de sua trajetória, de como começou a fazer poesia, das leituras iniciais,
da vinda para o Rio de Janeiro, da incursão na política, e do ingresso na vida
intelectual e nos quadros da Universidade pública. Junto a isso, busca pensar a
sua geração – que viveu 68 – e as transformações que a marcaram, principalmente
a partir dos anos 80 do século passado.
Com cada parte da
entrevista, publicaremos poemas do autor. Aqui vão três poemas de Léu, seu primeiro livro, publicado em
1988.
*
pela madrugada, bufamos, camelos,
sintonizados,
motivos da noite, subcutâneos. os sonhos
deram-se as mãos: vimos
Alvorecer ao meio dia, que as venezianas
cintilavam
a incessante manada de búfalos perseguia os
camelos
num excesso de suor e esperma. tudo em
dobro.
ficara de telefonar antigo anjo, azul.
*
moça na janela
entre bananeiras
suspiração ção ção
o lençol do calor, arfa, ir
deste interior
pra cidade, beirar
cabelos plantarão esquinas
à noite ajudo a tia na costura
alfazema
*
trio ternura
eram os três da reforma:
num canto, encostados,
escuros, azuis,
de jeans desbotados.
uma barba, voz grave
e doze dedos pelos beiços;
outra: a berros
clamando questões de ordem
e o terceiro fungava,
alto, nos braços,
bufão do ilegal na tarde de sábado
louco professor (matemática
em sala de encapetados);
fungava, e com isso seu corpo,
três léguas maior que o assento
se expandia bruscamente
os pés compridos, de chulés
franciscanos,
por instantes assumiam
o central da reunião
mas a mesa, indignada,
prosseguia na jogada. (1977).
***
BLISS: A gente poderia começar falando um pouco
sobre a sua trajetória.
I: Minha trajetória?
Pessoal? Intelectual?
BLISS: Tudo junto. Eu acho que tá bem misturado.
I: Minha
autobiografia? Um relato autobiográfico?
BLISS: Em cinco minutos.
I: Eu só quero
entender o que vocês querem... em cinco minutos?
BLISS: Como você chegou na poesia?
I: Eu cheguei na
poesia através de um presente... já gostava de escrever, né? As minhas redações
na escola eram celebradas por professoras e papai e mamãe (risos). E aí, quando
eu tinha treze anos, eu ganhei uma máquina de escrever. Inesquecível, minha
primeira paixão na vida. Uma lettera 22 Olivetti. Uma lettera 22. Uma portátil.
Meu pai me deu de presente. E assim começou minha relação com a poesia: eu
escrevi os meus dois primeiros poemas na vida aos treze anos. Eu devo ter isso
guardado até hoje. Títulos bem adolescentes: Labirinto e Lagoa à noite.
(risos). E aí, pronto, aí eu comecei a escrever poesia escondido.
BLISS: Por que escondido?
I: A poesia era como
meu diário. Então era tudo escondido... A partir de uma certa idade, acho que a
partir de uns dezesseis, dezessete anos, eu comecei, assim, a ler para
aprender, né? Eu já lia muito por prazer, eu comecei a ler para aprender e aí,
é isso. Vi que a poesia era a minha. Depois fui pra graduação, só que eu fui fazer
graduação em Ciências Sociais, mas comecei a publicar, sempre escondido. Eu
morava em Brasília, mandava as coisas para a Tribuna da Imprensa. E eu comecei
a ler e a me interessar pelos poetas e eu estudava línguas, estudava inglês,
francês como um bom menino burguês de Brasília no meu tempo, né? A gente
estudava na escola, fazia esportes e estudava inglês, francês. Francês na
Aliança Francesa, e inglês, alguns na Cultura Inglesa e outros no, no
correspondente ao Ibeu de lá, que se chamava Caio Thomas Jefferson, que eram
centro culturais intensíssimos. Eu tive uma aprendizagem cultural legal nos
anos 60. Ontem, fui ver Palavra
(En)Cantada, aí tem cenas do Morte e
Vida Severina, né? Me lembrei eu, adolescente, vendo Morte e Vida Severina com o Tuca, puxa como... com quinze anos, foi
uma das coisas fundadoras da minha vida. Também tem cenas do Rei da Vela na montagem do Oficina da
época, né? É, também... Lá em Brasília, tudo ia pra Brasília. Então durante os
meus tempos de faculdade, eu estudei muito poesia por mim. Particularmente,
poesia em inglês e francês, né? Então durante os meus tempos de faculdade, eu
estudei muito poesia por mim. Particularmente, poesia em inglês e francês. E a
poesia brasileira eu só fui começar a ler mais quando eu vim pro Rio pra fazer
Mestrado, mas eu já lia Drummond. Tentei ler Cabral. É, assim, sei lá, um
relato assim das fontes bem primeiras, bem primevas.
BLISS: Dessas primeiras leituras que você fez quais
foram as mais marcantes, as mais interessantes, as que te pegaram mesmo?
I: O que me pegou
muito foi quando eu realmente comecei a querer ler poesia a sério para aprender
poesia, para ser poeta, realmente seguindo by the books. Quer dizer, o que os
the books mandavam eu ler, eu fui lá e li, que foi o Eliot, né? Bom, acho que a
minha grande escola primeira foi o Metalinguagem
do Haroldo de Campos, que é de crítica literária. Então, a partir dessas
leituras eu ia correr atrás dos poetas citados. E aí o Eliot, e a partir do
Eliot, eu me lembro que eu estudava poesia francesa, e como é língua
estrangeira, então tinha que ter dicionário. Eu era sério pra burro nisso,
sabe? Eu ia lá pra biblioteca da UnB e passava tardes inteiras lendo e
traduzindo poemas e eu gostava muito de copiar à mão, né? Então depois do
Eliot, por causa do Eliot, me interessei pelo Laforge. Pelo Laforge, e aí
comecei a ler também poesia brasileira, Drummond. Não tô me lembrando muito bem
assim dos detalhes, não, mas era isso. E eu escrevia, escrevia, escrevia,
escrevia muito. Mas nada que possa ser aproveitado hoje. Mas escrevia muito. Eu
escrevia poemas discursivos, compridos, entendeu? Mas depois, digamos, todos os
meus poemas, principalmente do livro Léu,
todos os meus poemas são praticamente tirados dessas páginas iniciais, só que
cortados, resumidos. Então tem poemas lá, em Léu, tem poemas de três ou quatro
versos, bem curtinhos, que a origem deles é um poema de quatro páginas, cinco
páginas.
BLISS: Mas aí você disse que quando veio pro Rio,
começou o mestrado em letras, mas aí você também começou a militar em política?
I: Sim.
BLISS: Como começa a se combinar essa vontade de
ser poeta e a militância?
I: As duas coisas. Eu
sempre fui superpolítico e superartístico, mas sempre focando a poesia, né? Eu
sempre quis Letras. Eu queria ser escritor, eu queria fazer vida literária, eu
queria ir pro Rio de Janeiro fazer vida literária. Mas eu optei por Ciências
Sociais. Eu acho que hoje, eu pensando a posteriori, isso é uma faca de dois
gumes, porque, realmente, eu acho que uma formação em Ciências Sociais ou História
ou de outras áreas, assim, mais Ciências Humanas, é muito bom para quem vai
fazer Letras, para quem vai se dedicar às letras. Porque para a pessoa, em
geral, que vem só de Letras sempre é mais complicado para ela penetrar no mundo
da teoria, da bibliografia teórica e tal. Mas por outro lado, eu lamento demais
porque eu não tive aquela graduação em literatura grega, uma formação escolar
clássica. Fez falta. Mas a política e a poesia sempre tiveram muito juntas pra
mim, só que a poesia é uma coisa que eu praticava já em Brasília desde muito
cedo e a política eu só vim praticar mesmo quando cheguei no Rio de Janeiro.
BLISS:
Quando a poesia passou desse lugar íntimo
para um lugar público?
I: Bom, o meu sonho
no início era ser um Maiakóvski, entendeu? (risos).
BLISS: E quem seria o Lênin desse Maiakóvski?
I: Ah, um Lênin. Eu
posso também te contar minha trajetória toda. Foi uma trajetória meteórica, a
minha passagem pela esquerda organizada foi uma trajetória meteórica. Num
espaço de poucos anos, eu fui desde uma organização praticamente anarquista até
o partidão. Aí, depois eu saí, e fiquei independente. Mas tudo no espaço entre
78 e 85. Quando veio a abertura política, eu saí do partidão, fiquei
completamente independente, eu fiz uma opção, eu fiz a opção por uma vida
profissional, por ser professor, fazer concurso. Porque o problema é o
seguinte: quando veio a democracia, ou você se profissionalizava na política,
ou não tinha sentido. Eu até entendo hoje em dia, as pessoas que querem
reeditar a vida militante. Pessoal do PSOL, partidos assim. A minha defesa de
mestrado foi engraçada porque foi a Dirce, o Afonso, o orientador [era] o Costa
Lima. O Afonso falava, quer dizer, ele já achava, a geração deles já achava uma
maluquice: “o Ítalo agora vai virar militante de esquerda, vai participar de
reunião clandestina”. Se você tava fazendo política a sério, você tinha que ser
candidato a vereador, aí eu nunca quis ser um burocrata, participava da
política como um cidadão, como militante. Nunca quis ser um burocrata, embora
eu tenha me tornado um burocrata porque o professor universitário é
eminentemente um burocrata. Aí, eu me afastei da política partidária, mas eu
passei a ter uma vida de professor, fiz concurso pra UERJ. Então, aquela boêmia
literária que também caracterizou muito o período, que foi até o período em que
eu convivi com a Ana Cristina César, 76, 77, 78, 79, uma boêmia literária que
eu vivi, que eu vi, que eu vim pro Rio pra viver, se dissipou numa vida
profissional.
BLISS: Sobre a década de 60, 70, em geral, a gente
tem muita bibliografia, tem muitos relatos. Sobre a década de 80, a gente quase
não ouve as pessoas falarem. Posso estar enganado. Na década de 80, começa um
refluxo mais forte revolucionário, começa a caminhar pruma nova ordem que vai ser
o neoliberalismo, mas não há muitos relatos sobre isso. Quer dizer, no livro
sobre a Ana Cristina , você assume um papel de memorialista da sua geração, e
eu me lembro que uma das coisas que você falou na sua posse da EdUERJ, foi da
chegada de uma geração ao poder. Eu queria que você falasse sobre esse
percurso, a partir dos anos 80, da sua geração e como você vê isso?
I: Isso é uma coisa
que tá muito na minha cabeça atualmente. E volta de vez em quando, né? Eu fui
ver a peça Rock’n’Roll do Tom Stoppard e novamente esse insight veio pra mim.
Pensando bem, eu sempre me encaro como filho dos anos 70, e, portanto, como
filho de 68. Os anos 70 nada mais são do que 68 durante dez anos. Nos anos 70,
tinha três coisas: tinha poesia, tinha política e tinha a formação
contracultural. O meu apelido no movimento estudantil na PUC era fração
desejante. Então, já externava minha filiação contracultural no meio daquele
bando de comunista. No meu projeto, quando eu escrevi a Ana Cristina, e também
no projeto que eu tinha com relação ao Caio Fernando, sempre tinha essa ideia
de recapturar, digamos assim, os anos 70 como cronista e memorialista dos anos
70. Os anos 70 são os anos mais formadores. A minha vida depois desse período,
que termina um pouco mais pra frente em 83, 84, se tornou uma sucessão monótona
de dias. Então quando eu olho minha vida pós-adolescente, os anos 70, tudo tá
ali. E na verdade a raiz de como eu sou ainda hoje, por mais pragmático,
burocrata e administrativo – como Gilberto Gil Ministro da Cultura (talvez
vocês só conheçam o Gilberto Gil já muito engravatado, mas eu não tenho a menor
dúvida que o Gilberto Gil pode ser presidente do mundo que ele é aquele
Gilberto Gil lá dos anos 70 e dos anos 60 em algum nível ou num nível muito
fundamental), sempre me senti muito identificado com isso, e é verdade, eu acho
que no fundo eu acalentei sempre muito o projeto de, como uma coisa legal, não
como uma coisa absoluta, como uma coisa muito legal isso, de escrever a minha
geração. Acontece que de repente eu cansei. (risos). De repente eu cansei
porque eu vi o seguinte, olha, eu sou filho dos anos 80. De repente eu saquei
que os anos 80 são fundamentais, foram fundamentais para mim. E que então como
é que eu vou resolver isso? Então olha só, já que o Márcio gosta desse tipo de
referência: eu não sou especialista em nada, eu sou amador em tudo, a não ser
nas coisas que eu amo... nas poucas coisas que eu amo. É uma questão
existencial e estética, que é o seguinte: a fundação de tudo do ponto de vista
imaginativo e existencial está nos Rolling Stones, mas eu gosto mais do
U2. (risos). Eu acho o U2 muito mais
importante que os Rolling Stones, mas o Rolling Stones é tudo. Então como é que
eu vou equacionar isso? Acho que só a santíssima trindade pode explicar.
Entendeu? O nosso mundo, o mundo em que nós vivemos, começa nos anos 80. Na
peça Rock’n’Roll, ele faz um histórico, ela é até didática nesse ponto, porque
entre as diversas cenas entre os diversos quadros ele mostra uns pedaços de
filmes dos anos 60, ele vai muito devagarzinho, 66, 67, 68, 69, 73, 74, vai
devagarzinho, e depois ele salta e tem só uns dois quadros dos anos 80 e 90.
Então quando chega nesse final da peça que é muito resumido, aparece Margaret
Thatcher, Reagan. Por menos que eu queira admitir isso, eu vivo num mundo e eu
quero entender o mundo que surgiu a partir da Margaret Thatcher e do Ronald
Reagan e sem ressentimentos porque existe o U2. Quer dizer, e muitas outras
coisas, como hoje em dia existe o hip hop existe o rap.
BLISS: Parece ser muito difícil fazer uma narrativa
da passagem. Porque todas as narrativas feitas sobre os anos 70, inclusive a
sua, tanto da Ana Cristina, quanto a do Caio, ou as que fizeram do Leminsky,
sempre são narrativas sobre pessoas que não fizeram o transcurso, que não tiveram
que fazer a opção, ou fizeram de uma outra forma a opção que você fez: uma
opção por uma coisa mais burocrática. Você acha que ainda seria possível fazer
uma narrativa, seria possível fazer a sua autobiografia?
I: Já que não escrevi
a biografia da geração, vou escrever a minha autobiografia. Não, eu tô
brincando, eu sou superautobiográfico, só sei escrever sobre a minha pessoa e
tal. Mas uma coisa que eu queria falar também complementando o que eu tava
desenvolvendo: Eu coloquei assim mais ou menos o drama existencial, mas o que
eu quero dizer é o seguinte: os anos 80 viraram tudo, e aí eu não posso deixar
de colocar como uma referência a minha trajetória dentro da universidade,
dentro da vida acadêmica, porque nos anos 80 foi quando eu me aceitei como
intelectual. Porque a universidade isso que você tá chamando burocrático tem um
lado que ainda é o lado participativo meu, que é o veio político, mas o outro
lado que é o lado profissional. Na formação anos 70 e contracultural, o
intelectual, ele é desvalorizado, então você não quer ser intelectual, você
quer ser militante, você quer ser poeta, você quer ser artista. Mas
intelectual, não. Não havia a menor ilusão desse intelectual iluminador das
massas, intelectual geral, intelectual era o especialista, o funcionário.
Então, os anos 80, para mim, pessoalmente, foi importante eu me reconhecer
enquanto intelectual e situar os outros papéis subordinados a esse. A minha
trajetória universitária interessa não como uma história burocrática, mas
porque é uma trajetória intelectual. Nos anos 80, entre o meu mestrado e o meu
doutorado, aconteceu uma tsunami. Tudo que eu aprendi no mestrado, que foi
basicamente o estruturalismo com pitadas de pós-estruturalismo, quando eu fui
fazer doutorado nos anos 80, estava virado de cabeça pra baixo. O
estruturalismo não tinha mais nada a ver, o pós-estruturalismo era uma força
poderosa mas talvez num sentido outro. Isso se reflete na própria dualidade dos
meus dois grandes mestres, que foram o [Luiz] Costa Lima e o Silviano [Santiago].
Tem todo um apego meu, toda uma ligação minha com esse pós-estruturalismo que
passa a prevalecer nos anos 80/90, mas também tem toda uma formação em ciências
sociais, de filosofia da linguagem, de Kant. Poxa, eu participei de grupos de
leitura de Kant com o Costa Lima em 83, com Luis Eduardo Viveiros de Castro,
Luis Eduardo Soares. Então, isso é muito marcante na minha formação realmente.
E principalmente do ponto de vista dessa virada pragmática, só que a virada
pragmática teoricamente falando, ela tá vinculada a uma virada política, que é
realmente um reencontro dum pensamento radical com as fontes liberais do
próprio pensamento radical. Então é questão que eu colocaria de uma maneira
mais geral: eu acho que nos anos 80 [ocorre] uma guinada da intelectualidade
universitária brasileira, uma boa parte dela, justamente no novo diálogo com o
liberalismo. Então, foram mudanças brutais. Mudanças na política, que eu passei
a me colocar de maneira eclética. Eu sempre fui muito desconfiado de ideologia,
então eu passei a me colocar de maneira eclética, eu sou livre. Então, tem aqui
essa tradição marxista, tem aqui essa tradição liberal, tem aqui essa tradição
pepê, popó, papapá, e eu faço o que eu quiser com elas. Porque tem uma raiz, a
raiz é sempre libertária, contracultural, libertária, materialista. Se você
quiserem saber qual o meu discurso sobre religião hoje, ele é muito complexo,
mas eu não faço parte do grupo de pessoas que depois de todas essas crises aí,
virou religiosa. Mas também acho pobre, pobre, pobre de marré marré deci você fazer campanhas pelo ateísmo, você
querer deixar as evangélicas semimortas porque você é ateu. (risos). Acho uma
coisa completamente paupérrima, porque eu acho que a religião é necessária, o
simbolismo é maravilhoso, eu tenho uma relação estética com a religião e acho
também que a política contemporânea, global, passa pela religião. É isso, eu
acho que tem uma ruptura muito grande que vai acontecer do ponto de vista
intelectual, na vida intelectual, na vida teórica, tem um deslocamento muito
grande na vida política. Da minha parte, sei lá, eu acho que o meu rótulo em
política é radical, no sentido italiano da palavra. A ideia de democracia
radical. E tem esse drama eterno da estética: quem é o maior Dante ou, sei lá,
Joyce? Rolling Stones ou U2?
Parte 2 | Parte 3
Parte 2 | Parte 3
Nenhum comentário:
Postar um comentário